Ciência
Dois novos espaços para estimular a pesquisa
Em evento que contou com a presença de diversas autoridades, Embrapa inaugurou dois núcleos que ocuparão dois mil metros quadrados
Jô Folha -
Em tempos de crise nos recursos financeiros do serviço público, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado, com sede em Pelotas, conseguiu inaugurar na tarde de ontem um novo espaço de cerca de dois mil metros quadrados. Nele, ficarão dois núcleos de pesquisa, que abrigarão mais de 50 funcionários, entre pesquisadores, analistas, técnicos e assistentes, além de estagiários e bolsistas. O Núcleo de Alimentos e o Núcleo de Bioinsumos e Recursos Genéticos receberam a visita do novo presidente da empresa, Sebastião Barbosa, em seu primeiro dia.
Pelo menos dez autoridades discursaram antes da inauguração. Entre diretores, presidentes e representantes das entidades, um tema destacou-se na fala de todos: a importância das pesquisas e do desenvolvimento gerados pela Embrapa, bem como a capacidade de conseguir inaugurar um espaço moderno e sustentável em tempos de dificuldades financeiras. O chefe-geral da unidade, Clenio Pillon, resumiu a situação. "Estamos mostrando que é possível", refletiu. Segundo ele, a viabilização dos recursos com diversos parceiros ajuda a desenvolver novos insumos e a aproximar a instituição das expectativas da sociedade. Ressaltando que a Embrapa atua em diversas frentes, agradeceu às várias cadeias produtivas parceiras que ajudaram a chegar nesse momento.
O presidente Barbosa, que tomou posse há pouco mais de dois meses e está visitando diversas unidades pelo país, refletiu que durante muito tempo a Embrapa sobreviveu apenas do Tesouro Nacional. Hoje, com o setor agrícola se fortalecendo muito pela qualidade trazida pelas pesquisas desenvolvidas na instituição, acha justo o reconhecimento da importância, demonstrado através desse tipo de parcerias. Dessa maneira, vê um início de mudança no perfil da empresa, usufruindo bastante do formato. "Chegou a um momento que a Embrapa precisa mudar (…) é mexer em time que está vencendo para continuar vencendo", afirmou. O mandatário elogiou também a Clima Temperado como um todo. "É uma das (unidades) que se sobressaem desde o início, antes mesmo de ser Embrapa", reconhece.
Outro ponto bastante lembrado durante o evento, foi a aproximação do desenvolvimento obtido pela Embrapa e o pequeno produtor. Segundo Barbosa, é necessário aproximar-se desta parcela da população, contando com a parceria do serviço público. A aproximação do setor produtivo, segundo ele, melhora ainda mais a qualidade da produção. Um foco de sua gestão será a questão do semiárido e as localidades mais pobres, levando a eles a tecnologia. "Usando apenas enxada como instrumento de trabalho, é difícil de produzir", reconhece. A ideia é oferecer ciência e torná-los competitivos, para conseguir trabalho, renda e mais dignidade a esse produtor.
Os laboratórios
São duas unidades nucleares inauguradas. O gestor de laboratórios da Clima Temperado, Leonardo Ferreira Dutra, comemorou o novo espaço de trabalho. "É uma satisfação muito grande", celebrou. Também lembrando da dificuldade com os recursos, apresentou o novo prédio, que segue normas de boas práticas laboratoriais. A estrutura, com muitos vidros e teto verde, também olha com cuidado para o meio ambiente. Segundo ele, as janelas são cobertas com partículas que permitem a luz solar e bloqueiam a entrada de raios infravermelhos. O teto verde diminui o aquecimento. E assim, os gastos com energia diminuem consideravelmente. A obra custou cerca de R$ 3,3 milhões.
O Núcleo de Bioinsumos e Recursos Genéticos segue a lógica de pesquisa biológica. Irá trabalhar nas áreas de controle biológico, promotores de crescimento e novos insumos. Também irá trabalhar juntamente com a produção de plantas in vitro e recursos genéticos de manutenção da biodiversidade. Junto com eles, trabalhará também um laboratório de biologia molecular, que dará suporte aos programas de melhoramento genético da unidade.
Já o Núcleo de Alimentos deve atuar principalmente nas áreas de pós-colheita e ciência e tecnologia de alimentos. Nelas, se buscará agregar valor a produtos como frutas e hortaliças, trabalhando na parte de novos produtos e apoio a programas de melhoramento genético. O espaço terá um enfoque na saudabilidade de alimentos, atuando em conjunto com a nutracêutica (alimentos mais ricos em qualidade nutritiva).
Laboratório de azeites
Inserido no Núcleo de Alimentos, estará o primeiro laboratório de azeites do país com capacidade para fazer análises de qualidade de maneira completamente automatizada, segundo Dutra. Ele irá prestar serviços ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O azeite é um dos produtos mais fraudados na área de alimentos, e o espaço ajudará a evitar que isso aconteça.
O presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Eudes Marchetti, comemorou o crescimento da produção de azeitonas no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul. A área, que ele considera ainda pobre de pesquisas no país, dependendo de informações de outros países, ganha agora um núcleo que amplia o incentivo. Ele diz que em três anos, os azeites brasileiros já receberam 64 prêmios de qualidade. Além disso, a produção subiu e existem quase cinco mil hectares plantados no Estado. Com o aferimento sendo feito por aqui, ele acredita num fomento da parceria em busca de melhorias na cultura.
Após a inauguração dos espaços, houve uma recepção com mostra dos diversos produtos gerados pela Embrapa, desde criações acadêmicas, como livros e fôlderes, até os próprios alimentos gerados. Frutas, legumes, verduras e plantas ficaram expostos ao público. Houve também degustação de alimentos, cuja qualidade em algum momento passou pelos laboratórios da unidade.
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